quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Realização, Patrocínio e Parcerias

Somente com união podemos seguir em frente, agradecemos a todos os nossos patrocinadores e apoiadores:

Realização




Patrocínio





Parcerias




Apoio



*A Música "Parabolicamará", da autoria de Gilberto Gil, foi gentilmente cedida para o DVD "PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá", por: GEGE Edições Musicais (Brasil e América do Sul)/ Preta Music (Resto do Mundo).

terça-feira, 26 de outubro de 2010

VOLTA AO MUNDO: EXIBIÇÕES OUTUBRO/NOVEMBRO





Participe das exibições de outubro e novembro do curta metragem "PAZ NO MUNDO CAMARÁ - MG" em escolas municipais e centros culturais da grande Belo Horizonte.

O curta-metragem sobre a história da Capoeira Angola em Minas Gerais inicia seu giro de exibições por BH. Você sabia que existe uma relação intrinseca da capoeira angola e as culturas de Raiz de Matriz Africanas, como o samba, as danças afro e contemporânea, o congado, o candomblé e o teatro? Pois é! A luta da Capoeira Angola é social, histórica e cultural. Venha curtir com a gente as próximas exibições:

OUTUBRO

- Dia 28, Quinta-feira, a partir das 18h: programação do 3º Seminário: "A Chamada da Capoeira Angola: Tradição e Identidade". Mostra no Campus I (Pampulha), Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. O curta será exibido no prédio de Pedagogia, Faculdade de Educação (FAE) em frente ao Centro Pedagógico (CP). Após a exibição terá mesa de conversa com os Mestres: João Angoleiro (ACESA), Índio (ACAD), Jurandir (FICA), Dr. Walter Ude (Mestre Boca - FAE/UFMG), Contra-Mestre Renê (Camugerê), Flávia Soares (Cia. Primitiva), Junia Bertolino (Cia. Baobá), Treinel Daniel (ACESA) e Ibrahima Gaye (Cônsul Honorário do Senegal em Belo Horizonte, Diretor Centro Cultural Casa Áfrical).

- Dia 29, Sexta-feira, às 15h: Mostra na Escola Municipal Hugo Werneck para os alunos que participaram da Oficina de Animação e Contação de Histórias. Endereço: Rua Oscar Trompowski, 1372, Comunidade do Cascalho, Grajaú - Tel. (31) 3277-6862.

NOVEMBRO

- Dia 05, Sexta-feira, às 19h30min: Centro Cultural Padre Eustáquio - Endereço Rua Jacutinga (antiga Feira Coberta), 821 - Padre Eustáquio - Tel. (31) 3277-8394.

SINOPSE: a Capoeira Angola é mais do que uma série de movimentos, do que que uma luta corporal. A luta da capoeira é mais social, mais histórica, mais cultural. Nesse curta metragem vários mestres angoleiros de Belo Horizonte (MG) resgatam a recente história da capoeira da cidade, e mais! Convidam para uma visita às danças afro-brasileiras e contemporâneas, ao samba, ao congado, ao candomblé e ao teatro. O que essas expressões culturais tem haver com a Capoeira Angola? Veja nesse documentário que é muito mais do que uma forte vontade de valorizar toda a africanidade incrustada no jeito brasileiro de ser.

Entrevistados: 1-Mestre Rogério - Associação Cultural Angola Dobrada – ACAD – Santa Tereza; 2- Mestre Jurandir- Fundação Internacional de Capoeira Angola (FICA) - Bairro Bonfim; 3- Mestre Primo - Grupo Iúna de Capoeira Angola – Bairro Saudade; 4- Mestre Leo - Grupo Meninos de Palmares - Alto Vera Cruz; 5- Mestre Dunga – Grupo Senzala Eu Bahia – Praça Sete; 5- Mestre João - Associação Cultural Eu Sou Angoleiro, ACESA– Centro; 6- Treinel Ricardo Manaus - ACESA, Flor Do Cascalho- Morro das Pedras; 7- Treinel Gino – ACESA, Grupo ILÚ AIÊ - Bairro Nacional; 8- Contra Mestre Medonha - Capoeira Angola Africa Brasil, CAAB - Alto Vera Cruz; 9- Contra Mestre Renê - Grupo Camujerê – Parque Municipal; 10- Mestre Márcio Alexandre (Dança Afro) – Parque Municipal; 11- Junia Bertolino (Dançarina Afro) – Parque Municipal; 12- Marilene (Dança Afro) Parque Municipal; 13- Flavia Soares (Dançarina Afro) Parque Municipal; 14- Negoativo - Capoeirista e músico (Berimbrow) – Bairro Maria Goreti; 15- Maurício Tizumba, ator interpretou Besouro de Mangangá – Praça de Santa Tereza; 16- Rui Moreira (Cia de Dança Será que) – Teatro Alterosa; 17- Dona Elisa (velha guarda do samba de BH) Pedreira Prado Lopes; 18- Mestre Conga (Velha guarda do samba de BH) Pedreira Prado Lopes; 19- Candomblé de dona Efigênia – Floresta; 20- Congado - Reinado de dona Isabel – Bairro Concórdia; 21- Mestre Cobra Mansa (Fundação Internacional de Capoeira Angola).

O documentario foi produzido pelos alunos capoeiristas da Oficina de Produção Audiovisual: "Documentos de Si". Durante seis meses, 14 jovens angoleiros de Belo Horizonte, entraram no mundo do cinema para conhecer de perto a linguagem audiovisual e ralizarem seu primeiro curta. Os oficineiros possuem entre 14 a 30 anos e vêm de diversas frentes de trabalho da ACESA (Associação Cultural Eu Sou Angoleiro – Mestre João Angoleiro) situadas na região metropolitana da capital, como Lagoa Santa, Vespaziano, Barreiro, Contagem, onde treinam capoeira angola.

Alunos Capacitados: Assistente de Direção - Flávia Soares; Coordenação de Produção - Josiane Braga; Assistentes de Produção - Sérgio Pereira de Oliveira, Daividson Felipe dos Santos Ribeiro; Roteiristas - Cleves Henrique de Abreu Silva, Otávio Augusto Chaves; Cinegrafistas - Ângelo Augusto de Oliveira Santos, Claudinei Silva Santos; Editores - Carlos Renato, João Álvares; Still - Jack Lucas Machado Diniz, Warlen Mota e Josiane Braga.

Realização: ATOS Central de Imagens, Associação Cultural Eu Sou Angoleiro e Prêmio Capoeira Viva.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PAZ NO MUNDO CAMARÁ é inclusão sócio-cultural e valorização das culturas de raiz

Por Carem Abreu

Em 2004 Gilberto Gil, então Ministro da Cultura, esteve em Genebra participando de uma Conferência na ONU, onde afirmou: a capoeira “é o ícone cultural brasileiro perante os povos”. E mais: ela se tornou “uma mandala da dança pela paz mundial”. Como sou angoleira, jornalista e pesquisadora da história da capoeira, esta afirmação me intrigou: a prática da capoeira foi o primeiro crime instituído pela República (Artigo Art. 402, do Capítulo XII - Dos Vadios e Capoeiras- do Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1889). Sua prática foi difundida como “coisa de malandro”. Logo me surgiu uma indagação: quais teriam sido, então, os “movimentos” sócio-culturais realizados pela capoeira angola (pois a capoeira regional foi criada somente em 1938), para em menos de um século, deixar de ser vista como uma prática da tão discriminada “escória da sociedade” (leia-se: negros em busca da libertação) em um instrumento de paz mundial?

Também já havia comprovado, através de modestas pesquisas realizadas até aquele momento que, apesar de ser um estilo de vida tipicamente afro-brasileiro com filosofia própria, a CAPOEIRA ANGOLA, por ser uma prática de raiz, realizada até os dias de hoje em sua maioria por pessoas negras, de baixo poder aquisivo, num processo de exclusão sócio-cultural (ao contrário da Capoeira Regional amplamente difundida pelos brancos, e óbviamente, pela classe dominante) NÃO POSSUIA UM MATERIAL AUDIOVISUAL abrangente. Algo que demonstrasse sua REAL CONTRIBUIÇÃO no contexto histórico-social brasileiro, bem como na identidade cultural de nosso povo. Para tanto, nós da ATOS Central de Imagens e da ACESA, criamos em 2005 o projeto “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá”. Ele obteve em 2008 o patrocínio do Fundo Estadual de Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura de MG. O projeto também foi um dos seis contemplados em MG do “Prêmio Capoeira Viva”, do Ministério da Cultura.

Somando os recursos obtidos vimos que haviamos conquistado apenas 43% do montante necessário para a realização do projeto. Como somos discípulos de uma prática cultural de resistência social, resistimos uma vez mais. Como nossos antepassados, utilizamos os parcos recursos obtidos como um start de uma ação, que resulta de uma busca ancestral, de mais de 400 anos: a disseminação social dos saberes afro-descendentes e sua valorização institucional. Assim, realizamos nestes dois ultimos anos uma APROFUNDADA e INÉDITA PESQUISA sobre a trajetória da Capoeria Angola no Brasil, desde sua origem, seja ela no Quilombo dos Palmares, na Bahia, em Pernambuco ou no Rio de Janeiro, até o seu momento contemporâneo: Belo Horizonte (MG) nos últimos 10 anos vem se tornado um centro formador e exportador de “angoleiros” para o Brasil e para o mundo, e também um novo cenário da capoeiragem no Brasil.


Com humildade apresentamos hoje para a comunidade angoleira os produtos culturais derivados de nossa luta pela valorização da cultura popular. Agradecemos de público a todos os profissionais, entrevistados e pessoas envolvidas no projeto. Todos aceitaram trabalhar nele recebendo por seus serviços, no máximo, 20% do valor de mercado. Sem essa atitude comprometida de vocês nada disso seria possivel! Valeu mesmo! Muito Axé!

"PAZ NO MUNDO CAMARÁ" EM NÚMEROS:

25 mestres de capoeira angola entrevistados
18 mestres da cultura popular/ agentes culturais envolvidos
8 pesquisadores entrevistados
5 estados pesquisados
58 locações (15 MG, 25 RJ, 12 BA, 5 PE, 1 AL)
40 profissionais envolvidos
25 alunos instruidos
5 anos de produção

Confira o conteúdo do DVD e do SITE.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

CAPOEIRA: PATRIMÔNIO CULTURAL (AFRO)BRASILEIRO

Por Carem Abreu, com participação de Caroline Césari

* Diretora e Historiadora do projeto “Paz no Mundo Camará: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá”

Fontes:


Ascom, Iphan, www.abin.gov.br, www.palmares.gov.br, Museu do Folclore, Maurício de Barros.

Desde o dia 15 de julho de 2008 a Capoeira foi registrada como um Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Patrimônio cultural imaterial são representações da cultura brasileira como as forma de ver e pensar o mundo, as cerimônias (festejos e rituais religiosos), as danças, as músicas, as lendas e contos, a história, as brincadeiras e modos de fazer (comidas, artesanato, etc.), junto com os instrumentos, objetos e lugares que lhes são associados, cuja tradição é transmitida de geração em geração pelas comunidades. O Registro aconteceu em sessão solene no Teatro Castro Alves, em Salvador e foi uma iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Ministério da Cultura. A capoeira é o 14ª saber imaterial a ser registrado, e agora, figura ao lado da ciranda de roda, do acarajé, das panelas de barro do Espírito Santo e do frevo, como um bem cultural brasileiro.

Vale lembrar: o Registro é o passo mais recente do governo em sua nova política de valorização dos saberes populares e da capoeira. No mundo capoerístico caso semelhante ocorreu somente há 75 anos atrás (1933), na ocasião em que Getúlio Vargas revogou o artigo 402, do Capítulo XII do Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil, criado em 1892, referente aos atos dos “Vadios e Capoeiras”. Com essa lei a prática da capoeiragem foi considerada o primeiro crime oficial da República. Um estigma que perdurou efetivamente por longos 41 anos (1892 a 1933), inferiorizando categoricamente aqueles que lutavam por condições mais dignas para o povo negro como meros vadios, vagabundos e criminosos, dignos de todo tipo de tortura e degradação social.


Acervo Museu do Folclore/RJ

Cena do filme "Dança de Guerra", em 1968, Salvador:
jogando estão mestre João Pequeno e o pesquisador
Jair Moura. À direita, mestre João Grande observa o jogo.
Imagem cedida pelo Museu do Folclore/RJ, para
o documentário PAZ NO MUNDO CAMARÁ:
a capoeira angola e a volta que o mundo dá.

Esse estigma demorou árduos 116 anos para começar a ser quebrado aqui no Brasil. Agora com o Registro como Patrimônio Cultural aconteceu, institucionalmente, o reconhecimento do valor cultural da capoeira e da resistência de sua prática ancestral. De acordo com Márcia Santana, diretora de Patrimônio Imaterial, a diferença deste registro para o tombamento como patrimônio material (caso de edifícios históricos), é que o Registro “volta-se a ações de apoio às condições sociais, materiais, ambientais e de transmissão que permitem que esse tipo de bem cultural continue existindo”. Ela acrescenta que o registro é de significado simbólico: "Ocorre um aumento muito grande da auto-estima dessas pessoas. Embora a capoeira esteja disseminada em todo o mundo, alguns mestres da tradição oral nunca tiveram, pelo menos até recentemente, nenhum programa de valorização do seu saber".


CAPOEIRA VEIO DA ÁFRICA
Se por um lado o Registro garante uma pesquisa e análise do bem cultural e a criação de mecanismos de manutenção das tradições, muitos pontos primordiais sobre esse novo Patrimônio Cultural precisam ser elucidados. Como a própria questão da capoeira ter sido reconhecida apenas como uma cultura genuinamente brasileira. Para mestre Curió, do Grupo Irmãos Gêmeos, de Salvador, este lapso chega a ser “um desaforo”, pois “não há como negar sua origem africana”. O Mestre esteve em setembro de 2008 em Belo Horizonte, juntamente com Mestre Moraes, do Grupo Capoeira Angola Pelourinho – GCAP - participando do Seminário "Capoeira Angola e Patrimônio”, atividade do “2º Encontro Nacional de Capoeira Angola de BH”. Mestre Moraes, também se mostrou indignado com a forma como foi desenvolvido o processo de pesquisa que originou o dossiê de salva guarda. Para ele o processo aconteceu “à revelia dos mestres antigos” e através da ótica de pesquisadores e de pessoas de pouca expressão no mundo da capoeira.

O trabalho de inventariar, pesquisar e formular os conteúdos do dossiê foi delegado ao Laced, Laboratório de Pesquisa em Etnicidade Cultura e Desenvolvimento do Museu Nacional da UFRJ. Teve a coordenação do Prof. Wallace de Deus, com assessoria do prof. Maurício de Barros, doutor em História Social e capoeirista. Sua equipe reuniu profissionais de História, Antropologia, Psicologia, Educação Física e Artes Cênicas, em parceria com as Universidades Federais do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e a Federal Fluminense, sob a supervisão do Iphan. As pesquisas foram realizadas no Rio de Janeiro, Salvador e Recife, principais cidades portuárias apontadas como prováveis origens desta manifestação e locais onde havia documentação a respeito.

Tivemos a oportunidade de entrevistar o prof. Maurício de Barros, no Rio de Janeiro. Ele explicou a nossa equipe como funcionou a dinâmica da construção do dossiê: “Você faz toda a pesquisa e detecta quais são as questões da comunidade da capoeira e a partir daí, você elabora um plano de salva-guarda, que são medidas de políticas públicas elaboradas pela pesquisa. (...) A idéia era fazer dois encontros em cada cidade para ouvir dos mestres e dos pesquisadores quais eram as questões da capoeira, e a partir daí, poder elaborar uma pauta que seguisse esse plano de salva-guarda”.

“Na verdade, a partir desse encontro (que ocorreu em dezembro de 2006) nós chamamos estas pessoas para elas falarem para o publico. No Rio, buscamos as diversas vertentes da capoeira, uma vez que o inventário não é só restrito à capoeira angola. Então buscamos o representante do Grupo Senzala (mestre Gil Velho), o Mestre Peixinho, da manifestação da chamada como capoeira de Rua, nós buscamos o Mestre Russo, de Duque de Caxias; chamamos o representante da capoeira angola do Rio: o Mestre Zé Carlos e Mestre Manuel, e pesquisadores como o Julio Tavares - o primeiro a fazer um trabalho acadêmico sobre capoeira - e outros pesquisadores que estavam envolvidos neste processo, como pesquisadores que trabalhavam com o Mestre Russo e outros que eram alunos do Mestre Peixinho. (...) Em Salvador o evento foi mais amplo, durou dois dias. Convidamos da mesma forma, buscando ampliar as vertentes: na capoeira angola convidamos o Mestre Moraes, e Mestre Cobra Mansa, atualmente Mestra Janja, que na época era contra-mestre. (...) Em Pernambuco fizemos o mesmo modelo de encontro, então chamamos os mestres locais (...) como o Mestre Pirajá, Mestre João Mulatinho, Espinhela... A capoeira angola é que não foi muito bem representada, porque tentamos entrar em contato com o Mestre Sapo e não conseguimos. E lá nós percebemos que havia uma demanda maior local, que era de reconhecimento da capoeira de Pernambuco, como uma capoeira própria, que tinha história própria e que estava de certa forma, sempre alijada pelo eixo Rio-Salvador”.


Questionado sobre o dossiê ter sido preparado por uma equipe de pesquisadores/técnicos e da “ausência” neste processo de mestres importantes para uma reflexão mais coesa, Barros afirmou: “Todos os mestres compareceram, menos Mestre Moraes. Por exemplo, eu ouvi o Mestre Moraes dizendo que não foi consultado. Mas no nosso cartaz, tem o nome dos mestres que participaram. Inclusive eu, pessoalmente não convidei o Mestre Moraes, mas as pessoas responsáveis pela organização do evento em Salvador convidaram, tanto que ele foi incluído na programação e não pôde ir. E aí, eu não sei muito bem o porque. Mas o que posso dizer é que essas pessoas foram, inclusive foram para dizer o que achavam. E nem todas concordavam... Assim, o encontro foi foco de debates, onde até mesmo o inventário era questionado. Pra quê servia? Ou seja, a própria tradição do IPHAN de ter sido criado em 1937, no Estado Novo... a presença do Governo. E nós éramos encarados como o Governo, a Instituição, quando na verdade nós fomos pesquisadores contratados, que tínhamos uma ligação com tema, e que estávamos reunindo aquelas pessoas para levantamento de pauta para saber o que elas pensavam de chegar a este plano de salvaguarda”.
Acervo Museu do Folclore/RJ
À direita, mestre Waldemar faz jogo de faca, em seu barracão.



AFRICANO QUEM BOTÔ
Sobre a questão de no registro a capoeira não ter sido considerada como um Patrimônio Cultural Afro-Brasileiro, o próprio coordenador do dossiê foi contundente em afirmar: “Seria um absurdo negar a influência africana, a própria matriz africana da capoeira. Não tem como negar isso (...) E nós fomos até Salvador para enfrentar discussão com o Mestre Curió. Porque naquela época ele fez um evento justamente com esse nome: “Capoeira Patrimônio Cultural Afro-brasileiro”. Então passamos a tarde toda conversando em uma mesa, que estava muito bem representada pela comunidade afro-descendente de Salvador, que é mais forte do que qualquer outro lugar no Brasil. E nós tentamos responder a essa pergunta do Mestre Curió e de outros mestres. Institucionalmente não tem como reconhecer a capoeira como patrimônio cultural afro-brasileiro, porque é uma iniciativa do estado brasileiro. Não tem como o Brasil responder pela África. Ou seja, teria que ser um acordo binacional para ter esse tipo de reconhecimento. Agora, a nossa perspectiva que tentamos passar, é o fato de ser do Brasil, não exclui um pertencimento afro-brasileiro... Até mesmo por uma questão burocrática, um decreto do presidente não tem como ser mudado neste nível”.


CAPOEIRA VEIO NOS LIBERTAR
A partir do registro, a capoeira passa a fazer parte do patrimônio cultural do Brasil e assegura os direitos dos profissionais da arte. Os velhos mestres terão plano de previdência especial, será estabelecido um programa de incentivo da capoeira no mundo e criado um Centro Nacional de Referência da Capoeira, além do plano de manejo da biriba, madeira utilizada na fabricação do instrumento principal da capoeira: o berimbau. De acordo com o presidente do Iphan, Luiz Fernando Almeida, o direito dos profissionais foi um dos principais ganhos do registro da capoeira. Para Maurício de Barros uma das grandes conquistas do registro é a “questão do reconhecimento do notório saber Mestre, pois durante o governo de Fernando Henrique foi promulgada uma lei que proíbe o Mestre de capoeira dar aula em escola. Não é que proíba, mas como existe o professor de Educação Física, deixa de lado a questão da Cultura Popular, do saber tradicional, que é diferenciado do saber acadêmico”.

Maurício também nos explicou como estas conquistas podem sair do papel: “o plano de salva guarda é uma forma do IPHAN levar essas propostas para os órgãos que vão tentar incluí-los. Por exemplo, a questão da aposentadoria será levada à previdência. Porque não é o IPHAN que vai cobrir a questão da aposentadoria dos Mestres. Eles vão fazer um plano e discutir isso com a Previdência Social. A questão do Notório Saber dos Mestres, eles vão levar isso para o MEC e o MEC irá baixar uma portaria, ou alguma coisa parecida, propiciando isso. Se o que está ali no plano de salva-guarda for cumprido, ou seja, se o governo conseguir estabelecer aquelas metas, acho que garante bastante coisa. Por exemplo, vai garantir o que está ali, reconhecimento do Notório Saber. Ou Seja, se tiver um concurso público, para dar aula de capoeira na Universidade da Bahia, como por exemplo, tem quem dá aula de capoeira na Universidade da Bahia, que é a aluna do Mestre Curió, porque ela tem graduação... ela tem diploma de Educação Física. Poderia ser o Mestre Curió, mas se ele fosse se candidatar a isso, ele não conseguiria. Então o Registro abre espaço até em outros lugares assim”.

Segundo informações do IPHAN o material que resultou da pesquisa faz parte do dossiê de registro e vai ser publicado na série Dossiê Iphan, que já editou 6 volumes. Ele deve também integrar o banco de dados do INRC (Inventário Nacional de Referência Cultural) desenvolvido com a finalidade de organizar a informação e disponibilizar o acesso nos limites de usos autorizados, para a natureza da pesquisa produzida para o Iphan. Com material iconográfico levantado na pesquisa foi criada uma exposição intitulada “Na Roda de Capoeira” cuja as fotos estão ilustrando esta reportagem, as quais foram cedidas gentilmente pelo Iphan e pelo Museu do Folclore, com exclusividade, para a equipe do projeto “Paz no Mundo Camará: a Capoeira Angola e a Volta que o Mundo dá”. Até o fechamento desta edição, um ano após ao Registro da Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial, NENHUMA DAS GARANTIAS do plano de salvaguarda FOI IMPLEMENTADA para a comunidade capoeirística brasileira.

Acervo Pessoal do mestre Gildo Alfinete

Mestre Pastinha com seus discípulos no Pelourinho/BA.
No jogo: Na Atividade e Albertinho da Hora. Na bateria:
Gildo Alfinete, Gaguinho, Nelson, Sapateiro, Genário
Lemuscoto, Roberto Satanás, Rui Lemuscoto e Genésio Meio Quilo.



BOX
GARANTIAS DO PLANO DE SALVAGUARDA DA CAPOEIRA

Reconhecimento do notório saber dos mestres de capoeira pelo Ministério da Educação:

Espera-se que o registro do saber do mestre de capoeira como patrimônio cultural do Brasil possa favorecer a sua desvinculação obrigatória do Conselho Federal de Educação Física, ao qual a capoeira está subordinada. A proposta pretende contribuir para que mestres de capoeira sem escolaridade, mas detentores do saber, possam ensinar capoeira em colégios, escolas e universidades.

Plano de previdência especial para os velhos mestres de capoeira:



Existe a sugestão da elaboração, junto à Previdência Social, de um plano especial para mestres acima de 60 anos que tenham tido dificuldades de contribuir com a entidade ao longo dos anos. Como se trata de uma ação de emergência, que busca acolher os mestres atuais que vivem em absoluto estado de carência, recomenda-se que esta proposta tenha implantação imediata e perdure até que os futuros mestres possam dispensar esta ação de salvaguarda.

Estabelecimento de um Programa de Incentivo da Capoeira no Mundo:


Espera-se que o Itamaraty possa inserir a capoeira nos seus programas de apoio à difusão da cultura brasileira, e desta maneira facilitar o trânsito de mestres e grupos que oferecem cursos e apresentam rodas no exterior.

Criação de um Centro Nacional de Referência da Capoeira:


Foi proposta a criação do Centro Nacional de Referências da Capoeira no Brasil, que será virtual, de caráter multidisciplinar e multimídia, com o objetivo de abrigar produções científicas, acadêmicas e audiovisuais, dentre outras.

Plano de manejo de biriba e outros recursos:


A biriba - madeira tradicionalmente utilizada na confecção dos berimbaus – é a mais utilizada, mas há outras madeiras da Mata Atlântica ameaçadas de extinção, como o pau d’arco, a pitomba, a tauarí, dentre inúmeras outras. Sugere-se o plano de manejo destas espécies nativas ameaçadas para atender à crescente demanda de matéria-prima para a confecção dos berimbaus e demais instrumentos.

Fórum da Capoeira:


O objetivo deste fórum é estimular encontros periódicos dos mestres e estudiosos da capoeira, em parceria com universidades. É notório que alguns mestres possuem conhecimento acadêmico, mas não é o caso da maioria. Pretende-se com esta medida integrar a tradição oral ao ambiente de pesquisa acadêmica.

Banco de Histórias de Mestres de Capoeira:


Com a criação desta medida serão realizadas oficinas de história oral para capoeiristas interessados em registrar as trajetórias de vida de mestres antigos. O objetivo deste banco é dar suporte e integrar o Centro Nacional de Referências da Capoeira.

Realização do Inventário da Capoeira em Pernambuco:


Existe a intenção de incentivar, auxiliar e aprofundar as pesquisas sobre a capoeira em Recife, com base nas referências indicadas durante o processo de inventário utilizado no pedido de registro.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Curta Metragem: "PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá - Minas Gerais"

SINOPSE: a Capoeira Angola é mais do que uma série de movimentos, do que que uma luta corporal. A luta da capoeira é mais social, mais histórica, mais cultural. Nesse curta metragem vários mestres angoleiros de Belo Horizonte (MG) resgatam a recente história da capoeira da cidade, e mais! Convidam para uma visita às danças afro-brasileiras e contemporâneas, ao samba, ao congado, ao candomblé e ao teatro. O que essas exoressões culturais tem haver com a Capoeira Angola? Veja nesse documentário que é muito mais do que uma forte vontade de valorizar toda a africanidade incrustada no jeito brasileiro de ser.


**Para assistir ao vídeo sem interferência da música do blog, clicar em "pausa" no último ícone da coluna de apresentação do blog (á direita).
ENTREVISTADOS:

1-Mestre Rogério - Associação Cultural Angola Dobrada ACAD - Santa Tereza; 2- Mestre Jurandir- Fundação Internacional de Capoeira Angola FICA - Bairro Bonfim; 3- Mestre Primo - Grupo Iúna de Capoeira Angola – Bairro Saudade; 4- Mestre Leo - Grupo Meninos de Palmares - Alto Vera Cruz; 5- Mestre Dunga – Grupo Senzala Eu Bahia – Praça Sete; 5- Mestre João - Associação Cultural Eu Sou Angoleiro – Centro; 6- Treinel Ricardo Manaus - Flor Do Cascalho- Morro das Pedras; 7- Treinel Gino – Grupo ILÚ AIÊ - Bairro Nacional; 8- Contra Mestre Medonha - Capoeira Angola África Brasil CAAB - Alto Vera Cruz; 9- Contra Mestre Renê - Grupo Camujerê – Parque Municipal; 10- Mestre Márcio Alexandre (Dança Afro) – Parque Municipal; 11- Junia Bertolino (Dançarina Afro) – Parque Municipal; 12- Marilene (Dança Afro) Parque Municipal; 13- Flavia Soares (Dançarina Afro) Parque Municipal; 14- Negoativo - Capoeirista e músico (Berimbrow) – Bairro Maria Goreti; 15- Maurício Tizumba, ator interpretou Besouro de Mangangá – Praça de Santa Tereza; 16- Rui Moreira (Cia de Dança Será que) – Teatro Alterosa; 17- Dona Elisa (velha guarda do samba de BH) Pedreira Prado Lopes; 18- Mestre Conga (Velha guarda do samba de BH) Pedreira Prado Lopes; 19- Candomblé de dona Efigênia – Floresta; 20- Congado - Reinado de dona Isabel – Bairro Concórdia; 21- Mestre Cobra Mansa.

O documentario foi produzido pelos alunos capoeiristas da Oficina de Produção Audiovisual "Documentos de Si".