sexta-feira, 3 de maio de 2013

LANÇAMENTO NACIONAL do filme PAZ NO MUNDO CAMARÁ no RIO DE JANEIRO




Com lançamento marcado para o Arquivo Nacional 
na quarta-feira, dia 8 de maio,
“PAZ NO MUNDO CAMARÁ” 
conta versão afro-brasileira da história do Brasil

 DOCUMENTÁRIO RECOMPÕE MUDANÇA DE STATUS
 DA CAPOEIRA EM SEIS SÉCULOS



SINOPSE:  A Capoeira Angola traz a você uma versão inédita da história do Brasil: a da africanidade incrustada na identidade cultural brasileira através dos movimentos de luta e resistência do povo negro na diáspora.  E pensar que há menos de 100 anos a capoeira era percebida como atividade da “maladragem”. Afinal, quais foram os movimentos realizados para mudar  sua percepção social, tornando-se patrimônio cultural brasileiro e  instrumento de paz no mundo?

SERVIÇO



O QUÊ: Lançamento do documentário PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá (2012, 54 min). Direção: Carem Abreu.


QUANDO: quarta-feira, 8 de maio, das 18h às 21h.

ONDE: Arquivo Nacional - Praça da República, 173, Centro, Rio de Janeiro. Info: 21 2179-1228.

QUANTO: Entrada franca.



PROGRAMAÇÃO:
18h - Abertura da exposição fotográfica com registros das gravações pelo Brasil e projeção de imagens históricas obtidas no acervo do Arquivo Nacional.

18h45 - Apresentação do filme, com a participação dos mestres João Angoleiro (Acesa/MG) e Manoel (Ypiranga de Pastinha/RJ).

19h - Exibição do filme.

20h - Roda de Conversa: bate-papo da diretora e dos mestres com a plateia.

20h30 - Confraternização.

PARA SABER MAIS



PRÉVIA DO FILME NA COMUNIDADE DA MARÉ


Para ampliar, e democratizar o acesso ao conteúdo cultural do filme, ele será exibido também no dia 07, terça-feira, as 19h, no Centro de Cultura Popular Ypiranga de Pastinha, trabalho sociocultural realizado sob a coordenação de Mestre Manoel, um dos protagonistas do filme PAZ NO MUNDO CAMARÁ.


Sobre o  DVD e a Capoeira Angola

Um dos elementos mais influentes e marcantes na constituição da identidade nacional brasileira, a capoeira ganha uma leitura histórica abrangente e inédita, fruto de três anos de registros audiovisuais em cinco estados e 58 locações do país.



Com direção de Carem Abreu, o documentário “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá” recompõe a mudança de status da capoeira no Brasil, da marginalidade à condição de Patrimônio Cultural.

Símbolo dos movimentos de luta e resistência do povo negro trazido ao Brasil pela diáspora africana, a prática da Capoeira Angola remonta ao século 16, no contexto da luta e da resistência ao regime escravagista.

A disseminação da capoeira só se daria, no entanto, três séculos mais tarde, após a abolição da escravatura, quando passa a ser percebida como atividade da “maladragem” e tratada como problema social e “caso de polícia”.

Entre 2008 e 2010, “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá” colheu depoimentos de praticantes e estudiosos na Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e no Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Ao todo, cerca de 50 pessoas foram entrevistadas, entre mestres da Capoeira Angola e de manifestações culturais de matriz africana, artistas e pesquisadores do universo capoeirístico.

A extensa pesquisa da jornalista Carem Abreu e da antropóloga Carolina Césari (ambas capoeiristas angoleiras), base de sustentação histórica para o desenvolvimento do documentário, foi resumida e incorporada ao encarte que acompanha o DVD. Uma viagem no tempo que nos transporta a 1602, no Quilombo dos Palmares, em Alagoas, e chega até dezembro de 2011, com a morte de mestre João Pequeno de Pastinha, em Salvador.

As pesquisadoras apresentam uma abordagem inédita na pesquisa sobre a contribuição afro para cultura e a história do Brasil. Elas identificara quatro movimentos marcantes no processo de sedimentação da capoeira no contexto social brasileiro: Da Origem à Diáspora, compreende as mudanças ocorridas nos séculos 16 ao 18; Marginalização e Perseguição, as dos séculos 18 a 20; Folclorização e Institucionalização são relativos aos séculos 20 e 21; e Globalização e Projetos Sociais corre em paralelo ao anterior, a partir do século passado.

Os quatro primeiros séculos da presença da capoeira no Brasil são reconhecidos, sobretudo, por suas características históricas e sociais. A partir da primeira metade do século 20, a legitimação conferida pelo Modernismo às manifestações culturais da população de ascendência africana contribuiria diretamente para emprestar-lhe a imagem de instrumento de sociabilização. O que levaria, mais recentemente, à sua grande identificação com alguns dos mais expressivos movimentos em defesa da cultura da paz e da inclusão social.

“PAZ NO MUNDO CAMARÁ” foi produzido com recursos do Prêmio Capoeira Viva (2007) e do Fundo Estadual de Cultura de Minas Gerais (2008). O projeto foi finalizado a partir da sua seleção pelo edital de 2011 do Centro Técnico do Audiovisual, o CTAV, com a mixagem de som em Dolby Stereo 2.0 e 5.1. O documentário foi também um dos seis finalistas da Região Sudeste ao Prêmio Afro 2011, da Fundação Palmares e Ministério da Cultura, na categoria Artes Visuais.

O arco institucional do projeto envolve apoios da Casa Civil da Presidência da República, Arquivo Nacional, Universidades FUMEC, Instituto Carybé, Fundação Palmares, IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico da Bahia e Museu do Folclore.

A Capoeira Angola é diferente de Regional

CAPOEIRA REGIONAL: Mestre Bimba criou em 1937 a “Luta Regional Baiana”, a partir da prática que ele tinha na capoeira de raiz, essa ancestral, que desde a criação da “Regional” passou a ser denominada como “Angola”. A capoeira regional  começou a receber a atenção do governo a partir de uma apresentação dessa nova luta que Mestre Bimba fez a Getúlio Vargas, então presidente do Brasil.

Populista, Vargas entendeu a capoeira como uma luta genuinamente nacional e passível de
se tornar o “esporte nacional” por ele almejado, mediante, obviamente, sua associação à Federação Brasileira de Boxe. A Capoeira Regional defende a origem da capoeira no Brasil e é caracterizada mais como uma luta, do que como uma arte, pois associa a sua prática movimentos de lutas orientais como o judô, o caratê e até mesmo o circo, o boxe e atualmente o jiu jitsu. Essa nova capoeira foi amplamente aceita e praticada por estudantes universitários e indivíduos das classes mais altas, que contribuíram para a difusão nacional e internacional e o “embranquecimento” da capoeira.

CAPOEIRA ANGOLA: Em 1921, numa roda de capoeira no bairro da Gengibirra (Salvador), Mestre Pastinha recebeu dos antigos praticantes da “arte da capoeiragem” o dever de zelar pela tradição da capoeira. Essa capoeira tradicional, afro-brasileira, para se diferenciar da “Regional”, em 1937 passou a ser denominada “Capoeira Angola”.

O cunho “angola” passou a ser utilizado pelo fato desses capoeiristas acreditarem que a origem da capoeira está relacionada à cultural africana, por isso a capoeira angola hoje é conhecida e difundida como uma cultura de raiz de matriz africana.  Em 1941 Mestre Pastinha criou não só o “Centro Esportivo de Capoeira Angola”, mas formatou toda uma filosofia ligada à pratica e ao ser “angoleiro”.

A originalidade da atividade chamou atenção de grandes personalidades da classe artística da época, como Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé. Setores das camadas mais abastadas passaram a se interessar pela capoeira praticada pelos negros, visitando também o espaço de Mestre Pastinha no Pelourinho e se tornaram capoeiristas.

Nesse momento, que dura até meados da década de 1970, a capoeira passa por um processo de institucionalização e consolidação. E passa a ser vista com bons olhos pela sociedade. A partir daí surgem muitas academias, mestres e discípulos que fizeram da capoeira angola uma manifestação cultural brasileira de grande visibilidade e importância no Brasil e no MUNDO.

O processo de institucionalização da capoeira no Brasil se concretiza em  2008, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registra a capoeira como “bem cultural imaterial” brasileiro.

Mais que uma sequência de movimentos corporais executados ao som do berimbau e dos atabaques, a Capoeira Angola é considerada hoje um dos mais importantes elementos constituidores da identidade nacional.

Presente em todos os estados brasileiros e em mais de 150 países do mundo, ela é a raiz de expressões culturais variadas, com influências sobre a linguagem, a gastronomia, os costumes, a dança e a música, em manifestações como o samba e o frevo.

Incorporada crescentemente ao currículo escolar, como um instrumento pedagógico transversal que envolve temas históricos, culturais, sociais, políticos e religiosos, a capoeira é associada a valores como disciplina, respeito aos mais velhos, humanização, autovalorização e autocontrole.

A reboque da musicalidade e da “ginga”, ilustra a cultura da roda (de capoeira, de samba, de conversa) e o jeito brasileiro de ser –isento de fronteiras étnicas, capaz de transformar violência em camaradagem e de ser um aliado na busca da paz pessoal, local e mundial.

O Rio de Janeiro dos bambas e das comunidades afro-brasileiras (erroneamente identificadas como maltas)

“PAZ NO MUNDO CAMARÁ” colheu imagens em cerca de 30 locações cariocas: no Centro, na comunidade da Maré e em Duque de Caxias.

Rio de Janeiro tem um papel histórico e social muito importante para a capoeira e para a cultura brasileira. É neste local aonde foi diagnosticado o mais antigo registro histórico conhecido da capoeira, datado de 1719. Nele, a prática capoeirística é relacionada à criminalidade e à sua contenção pelo Estado. Trata-se do episódio da prisão de um negro que, segundo conta o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares no documentário, teria sido preso na Rua do Lavradio, na região da Lapa,  por “jogar a capoeira”.

Os capoeiras tiveram participação ativa na vida da cidade ao longo de todo o século 19. Marcam presença não só nos boletins policiais, como em textos de cronistas e viajantes, mas principalmente na vida social e cultural de várias comunidades e bairros da então capital do Império.

Majoritariamente negra e escrava no início do século 19, a partir de 1850 seu perfil se alarga, passando a abarcar livres e libertos, com uma grande parcela de mestiços e, principalmente no último quartel, também de brancos –brasileiros e estrangeiros. Por esta época, os capoeiras já não eram oriundos apenas das classes menos favorecidas, mas também da elite –caso de Juca Reis, filho do Conde de Matosinhos.

Ao longo do 19, agrupavam-se em grupos sociais, reconhecidos erroneamente pelos republicanos da elite como “maltas”, sendo cada grupo ligado a uma região específica da cidade, contando com símbolos específicos de identificação, como cores e vestimentas. Esses grupos sociais reuniam pessoas de origens bastante diversificadas, tanto étnicas quanto geográficas, e entravam em conflito com frequência pelas ruas da cidade do Rio, defendendo os seus territórios.

O governo não pôde deixar de perceber o potencial de combate desses grupos e resolveu “integra-los” em suas instituições. Assim, tornaram-se igualmente comuns aparições públicas à frente de paradas militares, procissões e desfiles carnavalescos. Ou como verdadeiras forças paramilitares, no papel de capangas eleitorais, intimidando e influenciando o voto, no fio da navalha.

Apesar de muitas maltas e capoeiras serem apadrinhados por personalidades públicas importantes ao longo do Império, eles foram alvo da repressão oficial, pois dominavam os territórios aonde viviam e começavam a pressionar o governo pela libertação dos escravos. Com freqüência, circulavam notícias sobre a “audácia” dos capoeiras, que andavam pelas ruas com suas navalhas, em plena luz do dia, ameaçando os chamados “homens de bem” da cidade.

Contra o governo pesavam acusações de pregar oficialmente a repressão, mas acobertar os “marginais”, sem uma ação policial efetiva que desse fim àquela “praga” que “manchava” a civilização brasileira.

Com a instauração da República, os esforços no sentido de construir uma nova identidade nacional, distinta do Império, gerou impactos importantes sobre a capoeira.

Identificada à monarquia, pelo fato de muitos capoeiras terem chegado a figurar entre os integrantes da Guarda Negra, ela passou a ser duramente reprimida, chegando a ser incluída no Código Penal de 1890, no artigo 402 - Dos vadios e capoeiras.

Um dos grandes nomes da cruzada republicana contra a capoeira foi Sampaio Ferraz, primeiro chefe de polícia do novo regime no Rio de Janeiro. Ele ficou conhecido como o grande aniquilador da capoeira na capital durante os primeiros anos do recém-instalado governo. Outro nome importante na repressão republicana, agora na Bahia, foi o chefe de polícia Pedro Azevedo Gordilho.

A República será a grande responsável em relacionar oficialmente a imagem do capoeira à do malandro e vagabundo que, na falta de trabalho, ganharia a vida com pequenos delitos, trazendo prejuízos à sociedade.

No entanto, segundo os registros policiais da época, apenas 20% dos capoeiras presos no Rio de Janeiro não apresentavam inserção definida no mercado de trabalho, sendo os outros 80% compostos de trabalhadores do setor de serviços, como relata Marcos L. Bretas em “A Queda do Império da Navalha e da Rasteira” (1991).

Orientados por uma perspectiva romântica, folcloristas como José Alexandre Mello Moraes Filho (1946), Henrique Maximiano Coelho Neto (1928), Adolfo Morales de Los Rios (1926), entre outros, buscaram, também durante o período Republicano, fazer uma releitura da capoeira, apresentando-a de forma positiva, como esporte nacional por excelência, legando ao capoeira o posto de herói nacional.

Seja como luta, manifestação folclórica ou esporte nacional, esses autores fazem parte de um grande conjunto de intelectuais de início do século 20 comprometidos com a reabilitação da capoeira, de forma a mudar positivamente a visão que a sociedade tinha da prática e de seus praticantes.

Mello Moraes Filho defende que a capoeira identificada com tumultos e a temida navalha deveria ser esquecida, em contraposição à boa capoeira e às maltas do passado, anteriores a 1870. Segundo ele, o tempo no qual a capoeira se criminalizou foi apenas um intervalo em nossa história. Coelho Neto chega inclusive a defender o ensino de capoeira nas escolas e nas Forças Armadas, servindo, nesta última, como método de defesa corporal.

Outro defensor da capoeira como esporte nacional foi Aníbal Burlamaqui (1928), que chega inclusive a publicar um manual no qual propõe um regulamento para a capoeira.

O que estava em jogo era que tipo de projeto de nação seria colocado em prática e, sendo assim, quais aspectos seriam valorizados como parte de uma “cultura nacional”.

Apesar de se ter notícias de capoeira nas cidades portuárias de modo geral, como Salvador e Recife, é o Rio de Janeiro que aparece melhor documentado nos estudos sobre o século 19 e que emerge como o grande centro da capoeiragem no país, como sugere Carlos Eugênio Soares (1994; 2001).

No Rio de Janeiro, as maltas eram mais articuladas, com um grande número de capoeiras. A partir da década de 1930, a capoeira baiana passa a se sobressair em relação à carioca.

Não se pode afirmar um motivo que tenha levado a um deslocamento do eixo da capoeiragem do Rio para Salvador, mas conforme argumentado por Letícia Reis (1997), o tipo de repressão empregada em cada região nos anos que se seguiram à Proclamação da República foi diversificado, sendo a repressão mais devastadora, aquela que submeteu a capoeira no Rio, então capital do país, onde a presença do aparato judicial era muito mais sentida, bem como a atuação das forças policiais.

Com isso, a capoeira no Rio observou um forte declínio durante as quatro primeiras décadas do século 20, quando autores como Luis Sérgio Dias (de “Quem Tem Medo de Capoeira”, de 2001) afirmam que ela praticamente desapareceu das ruas.

Mas a capoeira carioca não desapareceu. Apenas se transmutou e passou a funcionar em outros locais, como nos terreiros de candomblé e nos morros, passando a conviver com a religiosidade afro-brasileira e o samba.

Na década de 1960, Mestre Moraes, servindo exército em Niterói, inicia um trabalho com Capoeira Angola, que daria origem à sua primeira turma de alunos: Neco, Zé Carlos, Braga e Marco Aurélio.

Nesse mesmo período, se envolvem com a capoeira jovens da cidade de Duque de Caxias, que viriam a ser hoje grandes mestres e responsáveis por importantes grupos de Capoeira Angola, como Mestre Rogério, Mestre Cobrinha, Mestre Jurandir, Mestre Russo, Mestre Peixe, Mestre Angolinha, Mestre Manoel, todos moradores da Baixada Fluminense.

Hoje além dos grupos formados por esses mestres, temos a Roda de Caxias que acontece no centro da cidade há 37 anos, na Praça do Pacificador, no Centro de Duque de Caxias. A Roda de Caxias é uma das rodas de rua mais conhecidas entre a capoeiragem –para muitos, a mais duradoura e importante no contexto da formação da história da capoeira carioca contemporânea.


2 comentários:

  1. Se não estivesse em Recife fazendo meu recital, juro que ia! Que empolgante! Parabens Carem e equipe da Atos!

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