Com lançamento marcado para o Arquivo
Nacional
na quarta-feira, dia 8 de maio,
“PAZ NO MUNDO CAMARÁ”
conta versão afro-brasileira
da história do Brasil
DA CAPOEIRA EM SEIS SÉCULOS
SINOPSE: A Capoeira Angola traz a você uma versão
inédita da história do Brasil: a da africanidade incrustada na identidade
cultural brasileira através dos movimentos de luta e resistência do povo negro
na diáspora. E pensar que há menos de
100 anos a capoeira era percebida como atividade da “maladragem”. Afinal, quais
foram os movimentos realizados para mudar
sua percepção social, tornando-se patrimônio cultural brasileiro e instrumento de paz no mundo?
SERVIÇO
O QUÊ: Lançamento do documentário PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira
Angola e a volta que o mundo dá (2012,
54 min). Direção: Carem Abreu.
QUANDO: quarta-feira, 8 de
maio, das 18h às 21h.
ONDE: Arquivo
Nacional - Praça da República, 173, Centro, Rio de Janeiro. Info: 21 2179-1228.
QUANTO: Entrada franca.
PROGRAMAÇÃO:
18h - Abertura da exposição fotográfica com registros das
gravações pelo Brasil e projeção de imagens históricas obtidas no acervo do Arquivo
Nacional.
18h45 - Apresentação do filme, com a participação dos mestres João
Angoleiro (Acesa/MG) e Manoel (Ypiranga de Pastinha/RJ).
19h -
Exibição do filme.
20h -
Roda de Conversa: bate-papo da diretora e dos mestres com a plateia.
20h30 - Confraternização.
PARA
SABER MAIS
TRAILER: www.youtube.com/watch?v=rZVX2Qh4nFM
FACEBOOK: www.facebook.com/groups/paznomundocamara
TWITTER: #paznomundocamara
PRÉVIA DO FILME NA COMUNIDADE DA MARÉ
Para ampliar, e democratizar o acesso
ao conteúdo cultural do filme, ele será exibido também no dia 07, terça-feira,
as 19h, no Centro de Cultura Popular Ypiranga de Pastinha, trabalho
sociocultural realizado sob a coordenação de Mestre Manoel, um dos
protagonistas do filme PAZ NO MUNDO CAMARÁ.
Sobre o DVD e a Capoeira Angola
Um dos elementos mais influentes e
marcantes na constituição da identidade nacional brasileira, a capoeira ganha
uma leitura histórica abrangente e inédita, fruto de três anos de registros audiovisuais
em cinco estados e 58 locações do país.
Com direção de Carem Abreu, o
documentário “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá” recompõe
a mudança de status da capoeira no Brasil, da marginalidade à condição de
Patrimônio Cultural.
Símbolo dos movimentos de luta e
resistência do povo negro trazido ao Brasil pela diáspora africana, a prática
da Capoeira Angola remonta ao século 16, no contexto da luta e da resistência
ao regime escravagista.
A disseminação da capoeira só se daria,
no entanto, três séculos mais tarde, após a abolição da escravatura, quando
passa a ser percebida como atividade da “maladragem” e tratada como problema
social e “caso de polícia”.
Entre
2008 e 2010, “PAZ NO MUNDO CAMARÁ: a Capoeira Angola e a volta que o mundo dá” colheu
depoimentos de praticantes e estudiosos na Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Pernambuco e no Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Ao todo, cerca de 50 pessoas
foram entrevistadas, entre mestres da Capoeira Angola e de manifestações
culturais de matriz africana, artistas e pesquisadores do universo
capoeirístico.
A extensa pesquisa da jornalista Carem
Abreu e da antropóloga Carolina Césari (ambas capoeiristas angoleiras), base de
sustentação histórica para o desenvolvimento do documentário, foi resumida e incorporada
ao encarte que acompanha o DVD. Uma viagem no tempo que nos transporta a 1602,
no Quilombo dos Palmares, em Alagoas, e chega até dezembro de 2011, com a morte
de mestre João Pequeno de Pastinha, em Salvador.
As pesquisadoras apresentam uma
abordagem inédita na pesquisa sobre a contribuição afro para cultura e a
história do Brasil. Elas identificara quatro movimentos marcantes no processo
de sedimentação da capoeira no contexto social brasileiro: Da Origem à Diáspora, compreende as mudanças ocorridas nos séculos
16 ao 18; Marginalização e Perseguição,
as dos séculos 18 a 20; Folclorização e
Institucionalização são relativos aos séculos 20 e 21; e Globalização e Projetos Sociais corre
em paralelo ao anterior, a partir do século passado.
Os quatro primeiros séculos da presença
da capoeira no Brasil são reconhecidos, sobretudo, por suas características
históricas e sociais. A partir da primeira metade do século 20, a legitimação conferida
pelo Modernismo às manifestações culturais da população de ascendência africana
contribuiria diretamente para emprestar-lhe a imagem de instrumento de
sociabilização. O que levaria, mais recentemente, à sua grande identificação
com alguns dos mais expressivos movimentos em defesa da cultura da paz e da inclusão
social.
“PAZ NO MUNDO CAMARÁ” foi produzido com
recursos do Prêmio Capoeira Viva (2007) e do Fundo Estadual de Cultura de Minas
Gerais (2008). O projeto foi finalizado a partir da sua seleção pelo edital de
2011 do Centro Técnico do Audiovisual, o CTAV, com a mixagem de som em Dolby Stereo
2.0 e 5.1. O documentário foi também um dos seis finalistas da Região Sudeste
ao Prêmio Afro 2011, da Fundação Palmares e Ministério da Cultura, na categoria
Artes Visuais.
O arco institucional do projeto envolve
apoios da Casa Civil da Presidência da República, Arquivo Nacional,
Universidades FUMEC, Instituto Carybé, Fundação Palmares, IPHAN, Instituto do
Patrimônio Histórico da Bahia e Museu do Folclore.
A Capoeira Angola é
diferente de Regional
CAPOEIRA
REGIONAL: Mestre Bimba criou em 1937 a “Luta Regional Baiana”, a partir da prática
que ele tinha na capoeira de raiz, essa ancestral, que desde a criação da “Regional”
passou a ser denominada como “Angola”. A capoeira regional começou a receber a atenção do governo a
partir de uma apresentação dessa nova luta que Mestre Bimba fez a Getúlio
Vargas, então presidente do Brasil.
Populista,
Vargas entendeu a capoeira como uma luta genuinamente nacional e passível de
se tornar o
“esporte nacional” por ele almejado, mediante, obviamente, sua associação à
Federação Brasileira de Boxe. A Capoeira Regional defende a origem da capoeira no
Brasil e é caracterizada mais como uma luta, do que como uma arte, pois associa
a sua prática movimentos de lutas orientais como o judô, o caratê e até mesmo o
circo, o boxe e atualmente o jiu jitsu. Essa nova capoeira foi amplamente
aceita e praticada por estudantes universitários e indivíduos das classes mais
altas, que contribuíram para a difusão nacional e internacional e o “embranquecimento”
da capoeira.
CAPOEIRA
ANGOLA: Em 1921, numa roda de capoeira no bairro da Gengibirra (Salvador), Mestre
Pastinha recebeu dos antigos praticantes da “arte da capoeiragem” o dever de
zelar pela tradição da capoeira. Essa capoeira tradicional, afro-brasileira,
para se diferenciar da “Regional”, em 1937 passou a ser denominada “Capoeira
Angola”.
O cunho
“angola” passou a ser utilizado pelo fato desses capoeiristas acreditarem que a
origem da capoeira está relacionada à cultural africana, por isso a capoeira
angola hoje é conhecida e difundida como uma cultura de raiz de matriz africana. Em 1941 Mestre Pastinha criou não só o
“Centro Esportivo de Capoeira Angola”, mas formatou toda uma filosofia ligada à
pratica e ao ser “angoleiro”.
A
originalidade da atividade chamou atenção de grandes personalidades da classe
artística da época, como Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé. Setores das
camadas mais abastadas passaram a se interessar pela capoeira praticada pelos
negros, visitando também o espaço de Mestre Pastinha no Pelourinho e se
tornaram capoeiristas.
Nesse
momento, que dura até meados da década de 1970, a capoeira passa por um
processo de institucionalização e consolidação. E passa a ser vista com bons
olhos pela sociedade. A partir daí surgem muitas academias, mestres e
discípulos que fizeram da capoeira angola uma manifestação cultural brasileira
de grande visibilidade e importância no Brasil e no MUNDO.
O processo de
institucionalização da capoeira no Brasil se concretiza em 2008, quando o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registra a capoeira como “bem cultural
imaterial” brasileiro.
Mais que uma sequência de movimentos
corporais executados ao som do berimbau e dos atabaques, a Capoeira Angola é considerada
hoje um dos mais importantes elementos constituidores da identidade nacional.
Presente em todos os estados
brasileiros e em mais de 150 países do mundo, ela é a raiz de expressões
culturais variadas, com influências sobre a linguagem, a gastronomia, os
costumes, a dança e a música, em manifestações como o samba e o frevo.
Incorporada crescentemente ao
currículo escolar, como um instrumento pedagógico transversal que
envolve temas históricos, culturais, sociais, políticos e religiosos, a
capoeira é associada a valores como disciplina, respeito aos mais velhos,
humanização, autovalorização e autocontrole.
A reboque da musicalidade e da “ginga”,
ilustra a cultura da roda (de capoeira, de samba, de conversa) e o jeito
brasileiro de ser –isento de fronteiras étnicas, capaz de transformar violência
em camaradagem e de ser um aliado na busca da paz pessoal, local e mundial.
O Rio de Janeiro dos
bambas e das comunidades afro-brasileiras (erroneamente identificadas como maltas)
“PAZ NO MUNDO CAMARÁ” colheu imagens em
cerca de 30 locações cariocas: no Centro, na comunidade da Maré e em Duque de
Caxias.
Rio de
Janeiro tem um papel histórico e social muito importante para a capoeira e para
a cultura brasileira. É neste local aonde foi diagnosticado o mais antigo
registro histórico conhecido da capoeira, datado de 1719. Nele, a
prática capoeirística é relacionada à criminalidade e à sua contenção pelo
Estado. Trata-se do episódio da prisão de um negro que, segundo conta o
historiador Carlos Eugênio Líbano Soares no documentário, teria sido preso na
Rua do Lavradio, na região da Lapa, por
“jogar a capoeira”.
Os capoeiras tiveram participação ativa
na vida da cidade ao longo de todo o século 19. Marcam presença não só nos boletins
policiais, como em textos de cronistas e viajantes, mas principalmente na vida
social e cultural de várias comunidades e bairros da então capital do Império.
Majoritariamente negra e escrava no
início do século 19, a partir de 1850 seu perfil se alarga, passando a abarcar
livres e libertos, com uma grande parcela de mestiços e, principalmente no
último quartel, também de brancos –brasileiros e estrangeiros. Por esta época,
os capoeiras já não eram oriundos apenas das classes menos favorecidas, mas também
da elite –caso de Juca Reis, filho do Conde de Matosinhos.
Ao longo do 19, agrupavam-se em grupos
sociais, reconhecidos erroneamente pelos republicanos da elite como “maltas”,
sendo cada grupo ligado a uma região específica da cidade, contando com
símbolos específicos de identificação, como cores e vestimentas. Esses grupos
sociais reuniam pessoas de origens bastante diversificadas, tanto étnicas
quanto geográficas, e entravam em conflito com frequência pelas ruas da cidade
do Rio, defendendo os seus territórios.
O governo não pôde deixar de perceber o
potencial de combate desses grupos e resolveu “integra-los” em suas
instituições. Assim, tornaram-se igualmente comuns aparições públicas à frente
de paradas militares, procissões e desfiles carnavalescos. Ou como verdadeiras
forças paramilitares, no papel de capangas eleitorais, intimidando e
influenciando o voto, no fio da navalha.
Apesar de muitas maltas e capoeiras
serem apadrinhados por personalidades públicas importantes ao longo do Império,
eles foram alvo da repressão oficial, pois dominavam os territórios aonde
viviam e começavam a pressionar o governo pela libertação dos escravos. Com
freqüência, circulavam notícias sobre a “audácia” dos capoeiras, que andavam
pelas ruas com suas navalhas, em plena luz do dia, ameaçando os chamados
“homens de bem” da cidade.
Contra o governo pesavam acusações de pregar
oficialmente a repressão, mas acobertar os “marginais”, sem uma ação policial
efetiva que desse fim àquela “praga” que “manchava” a civilização brasileira.
Com a instauração da República, os
esforços no sentido de construir uma nova identidade nacional, distinta do
Império, gerou impactos importantes sobre a capoeira.
Identificada à monarquia, pelo fato de
muitos capoeiras terem chegado a figurar entre os integrantes da Guarda Negra,
ela passou a ser duramente reprimida, chegando a ser incluída no Código Penal
de 1890, no artigo 402 - Dos vadios e capoeiras.
Um dos grandes nomes da cruzada republicana
contra a capoeira foi Sampaio Ferraz, primeiro chefe de polícia do novo regime
no Rio de Janeiro. Ele ficou conhecido como o grande aniquilador da capoeira na
capital durante os primeiros anos do recém-instalado governo. Outro nome
importante na repressão republicana, agora na Bahia, foi o chefe de polícia
Pedro Azevedo Gordilho.
A República será a grande responsável
em relacionar oficialmente a imagem do capoeira à do malandro e vagabundo que,
na falta de trabalho, ganharia a vida com pequenos delitos, trazendo prejuízos
à sociedade.
No entanto, segundo os registros
policiais da época, apenas 20% dos capoeiras presos no Rio de Janeiro não
apresentavam inserção definida no mercado de trabalho, sendo os outros 80%
compostos de trabalhadores do setor de serviços, como relata Marcos L. Bretas
em “A Queda do Império da Navalha e da Rasteira” (1991).
Orientados por uma perspectiva
romântica, folcloristas como José Alexandre Mello Moraes Filho (1946), Henrique
Maximiano Coelho Neto (1928), Adolfo Morales de Los Rios (1926), entre outros,
buscaram, também durante o período Republicano, fazer uma releitura da
capoeira, apresentando-a de forma positiva, como esporte nacional por
excelência, legando ao capoeira o posto de herói nacional.
Seja como luta, manifestação folclórica
ou esporte nacional, esses autores fazem parte de um grande conjunto de
intelectuais de início do século 20 comprometidos com a reabilitação da
capoeira, de forma a mudar positivamente a visão que a sociedade tinha da
prática e de seus praticantes.
Mello Moraes Filho defende que a capoeira
identificada com tumultos e a temida navalha deveria ser esquecida, em
contraposição à boa capoeira e às maltas do passado, anteriores a 1870. Segundo
ele, o tempo no qual a capoeira se criminalizou foi apenas um intervalo em
nossa história. Coelho Neto chega inclusive a defender o ensino de capoeira nas
escolas e nas Forças Armadas, servindo, nesta última, como método de defesa corporal.
Outro defensor da capoeira como esporte
nacional foi Aníbal Burlamaqui (1928), que chega inclusive a publicar um manual
no qual propõe um regulamento para a capoeira.
O que estava em jogo era que tipo de
projeto de nação seria colocado
em prática e, sendo assim, quais aspectos seriam valorizados como parte de uma
“cultura nacional”.
Apesar de se ter notícias de capoeira
nas cidades portuárias de modo geral, como Salvador e Recife, é o Rio de
Janeiro que aparece melhor documentado nos estudos sobre o século 19 e que
emerge como o grande centro da capoeiragem no país, como sugere Carlos Eugênio
Soares (1994; 2001).
No Rio de Janeiro, as maltas eram mais
articuladas, com um grande número de capoeiras. A partir da década de 1930, a
capoeira baiana passa a se sobressair em relação à carioca.
Não se pode afirmar um motivo que tenha
levado a um deslocamento do eixo da capoeiragem do Rio para Salvador, mas
conforme argumentado por Letícia Reis (1997), o tipo de repressão empregada em
cada região nos anos que se seguiram à Proclamação da República foi
diversificado, sendo a repressão mais devastadora, aquela que submeteu a
capoeira no Rio, então capital do país, onde a presença do aparato judicial era
muito mais sentida, bem como a atuação das forças policiais.
Com isso, a capoeira no Rio observou um
forte declínio durante as quatro primeiras décadas do século 20, quando autores
como Luis Sérgio Dias (de “Quem Tem Medo de Capoeira”, de 2001) afirmam que ela
praticamente desapareceu das ruas.
Mas a capoeira carioca não desapareceu.
Apenas se transmutou e passou a funcionar em outros locais, como nos terreiros
de candomblé e nos morros, passando a conviver com a religiosidade afro-brasileira
e o samba.
Na década de 1960, Mestre Moraes,
servindo exército em Niterói, inicia um trabalho com Capoeira Angola, que daria
origem à sua primeira turma de alunos: Neco, Zé Carlos, Braga e Marco Aurélio.
Nesse mesmo período, se envolvem com a
capoeira jovens da cidade de Duque de Caxias, que viriam a ser hoje grandes
mestres e responsáveis por importantes grupos de Capoeira Angola, como Mestre
Rogério, Mestre Cobrinha, Mestre Jurandir, Mestre Russo, Mestre Peixe, Mestre Angolinha, Mestre Manoel, todos moradores
da Baixada Fluminense.
Hoje além dos grupos formados por esses
mestres, temos a Roda de Caxias que acontece no centro da cidade há 37 anos, na
Praça do Pacificador, no Centro de Duque de Caxias. A Roda de Caxias é uma das
rodas de rua mais conhecidas entre a capoeiragem –para muitos, a mais duradoura
e importante no contexto da formação da história da capoeira carioca
contemporânea.
Se não estivesse em Recife fazendo meu recital, juro que ia! Que empolgante! Parabens Carem e equipe da Atos!
ResponderExcluirO bom é a gente vibrar positivo juntos!
ExcluirÉ "nóis", mano!